quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Produção das alunas do IX semestre vespertino de Pedagogia

Universidade do Estado da Bahia – DEDC – Campus XV

Disciplina: Pesquisa e Estágio em Gestão Professora: Roberta Abreu

Autoras: Dihelle Couto; Elma Cristina Góes e Natalí Andrade

Carta retratando o tema: O coordenador pedagógico e o fracasso escolar*


Valença, 05 de dezembro de 2011

Prezada Marta, minhas saudações!

Queria poder falar com você pessoalmente e lhe demonstrar o quanto suas ações foram importantes para mim tornar a pessoa que sou. Mas na impossibilidade deste ato, escrevendo-lhe esta carta com muito carinho, pois isto só é possível hoje pela dedicação e competência com que você desempenhou o seu trabalho.

Você bem sabe que venho de uma família pobre que residindo na zona rural não teve a oportunidade e condições de se manter na escola. A vida, desde a infância, era dedicada ao trabalho. Eu fui o primeiro a frequantar este espaço. Porém a situação era muito difícil, a única escola primária que existia na região ficava à 7 km da minha casa me impossibilitando de frequentá-la regularmente, pois além da distãncia tinha que ajudar meus pais no trabalho da roça. Quando conseguia ir a escola apresentava dificuldades de aprendizagem tanto pelo cansaço da caminhada quanto pelas ausências que me custaram a perda de algumas lições, as quais não tinha como aprender depois com meus pais porque os mesmos nunca frequentaram a escola.

Foram muitos anos frequentando irregularmente a mesma série, e sendo ridicularizado pelos colegas e professores que não observavam o meus histórico, o meu contexto, enfim não estabeleciam uma simples conversa para identificar o que se passava comigo. Jogavam os conteúdos todos no quadro para nós copiarmos e quando não entendiamos iam logo as críticas: “Você é burro menino, não está vendo aqui no quadro não?!” De fato eu não estava vendo como meus colegas viam, mas elas – as professora que tive - nunca se atentaram para o fato. Mas isso não davam-lhe o direito de me chamar de burro. Eu não sou um burro, sou uma pessoa, e como todas as outras tenho a capacidade de aprender!

Foi você Marta, você minha salvadora! Que exercendo o papel de coordenadora na Escola Anísio Teixeira - a qual comecei a frequentar após ter me mudado com meus pais para outra região mais produtiva para o trabalho deles e para mim – que me percebeu enquanto ser humano aprendente que não aprendera a ler e escrever até aquele momento porque enfrentava dificuldades.

A leitura diagnóstica que você fez de mim e do meu “problema” ao me observar nos corredores da escola e sentar comigo para conversar, e o trabalho formativo que você desenvolveu com minhas professoras – pois apesar dos minhas sérias dificuldades de leitura e escrita estava naquele momento com 16 anos cursando a 5ª série – que possibilitaram a elas realizarem um trabalho mais específico comigo, e diga-se de passagem de forma mais afetiva.

Marta, foi este seu carinho e dedicação na realização de um papel articulador na escola que promoveu um ambiente de relações pessoais saudáveis, a realização de um trabalho comprometido das professoras, uma efetiva aprendizagem dos estudantes, e, o início da minha caminhada na educação.

Foi a partir daquele momento que decidi que profissional me tornar. Pensei comigo mesmo: “Vou ser coordenador pedagógico e possibilitar com meu trabalho que crianças não precisem passar por tantas dificuldades como eu para aprender a ler e escrever, e a ser gente”.

Hoje, sem ter condições de ter agradeçer pessoalmente e de te abraçar, visto que sua presença neste mundo não é mais física. Te agradeço escrevendo esta carta e espalhando para todos os cantos do mundo que hoje passei no concurso e fui efetivado no cargo de coordenador pedagógico por sua culpa Marta Gutenberque dos Anjos!

Seu eterno e agradecido aluno,

Nivaldo Pereira Santos


*Apesar da história retratada na carta ser fictícia, a mesma pode estar representando a vida de muitos Nivaldos, Marias, Pedros …

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